domingo, 8 de maio de 2011

O EXEMPLO SEMPRE FALA MAIS ALTO




As sandálias do discípulo fizeram um barulho especial
nos degraus da escada de pedra que levavam aos porões
do velho convento.

Era naquele local que vivia um homem muito sábio. O
jovem empurrou a pesada porta de madeira, entrou e
demorou um pouco para acostumar os olhos com a pouca
luminosidade.

Finalmente, ele localizou o ancião sentado atrás de
uma enorme escrivaninha, tendo um capuz a lhe cobrir
parte do rosto. De forma estranha, apesar do escuro,
ele fazia anotações num grande livro, tão velho quanto
ele.

O discípulo se aproximou com respeito e perguntou,
ansioso pela resposta:

- Mestre, qual o sentido da vida?

O idoso monge permaneceu em silêncio. Apenas apontou
um pedaço de pano, um trapo grosseiro no chão junto à
parede. Depois apontou seu indicador magro para o
alto, para o vidro da janela, cheio de poeira e teias
de aranha.

Mais do que depressa, o discípulo pegou o pano, subiu
em algumas prateleiras de uma pesada estante forrada
de livros. Conseguiu alcançar a vidraça, começou a
esfregá-la com força, retirando a sujeira que impedia
a transparência.

O sol inundou o aposento e iluminou com sua luz
estranhos objetos, instrumentos raros, dezenas de
papiros e pergaminhos com misteriosas anotações.

Cheio de alegria, o jovem declarou:

- Entendi, mestre. Devemos nos livrar de tudo aquilo
que não permita o nosso aprendizado. Buscar retirar o
pó dos preconceitos e as teias das opiniões que
impedem que a luz do conhecimento nos atinja. Só então
poderemos enxergar as coisas com mais nitidez.

Fez uma reverência e saiu do aposento, a fim de
comunicar aos seus amigos o que aprendera.

O velho monge, de rosto enrugado e ainda encoberto
pelo largo capuz, sentiu os raios quentes do sol a
invadir o quarto com uma claridade a que se
desacostumara. Viu o discípulo se afastando, sorriu
levemente e falou:

- Mais importante do que aquilo que alguém mostra é o
que o outro enxerga. Afinal, eu só queria que ele
colocasse o pano no lugar de onde caiu.

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